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9 de março de 2012

Justificativas





Eu não peço muito. Ou talvez peça. Talvez eu peça demais, que ninguém aguente tantos pedidos. Eu não brigo muito. Ou talvez brigue. Talvez eu brigue tanto, que ninguém queira mais brigar comigo. Eu não me cobro tanto. Ou talvez sim. Talvez eu me cobre tanto, que as pessoas se acostumem com a minha auto cobrança.



Não! Ou talvez eu sonhe demais e as pessoas fiquem incomodadas com os meus sonhos. Ou com os meus delírios ao sentir que estou perto de realizá-los. Talvez o meu jeito estranho atrapalhe as pessoas. Ou talvez elas me atrapalhem, porque seus jeitos simples me confundem. Tudo que querem me dar é leve. Tudo o que eu quero dar é pesado demais. Ou quem sabe eu seja muito fácil de decifrar e me torne extremamente entediante? Ou não! Talvez seja tão difícil entrar no meu infinito particular que os outros simplesmente desistem. Não porque não conseguiram, mas porque nem querem mais. Acaso não queira mais, eu tenho respostas para todos os Talvez que vivo me perguntando todos os dias.



Pode até parecer que você sabe tudo sobre mim. Mas você não sabe. Você pensa que sabe. Você pensa que eu tenho tudo, que eu sei tudo, que a vida nunca foi difícil para mim. Mas, não, eu não tenho tudo; muito menos sei de tudo; e minha vida foi muito mais difícil que a sua. Não, eu não peço muito. É você que faz muito pouco e eu faço demais. Você não aguenta meus pedidos porque tem medo de não conseguir agradar às minhas expectativas.



Eu também não brigo muito. É porque eu prefiro falar agora do que esperar para jogar depois. Porque eu detesto jogos. Jogos pra mim só de tabuleiro. E mesmo assim, pra dar muita risada. Jogos que me fazem sofrer, que me fazem ter mais dúvidas do que já tenho não me agradam. E não me agradam mesmo. Ai sim eu lhe jogo um talvez: talvez você é que goste de joguinhos. Porque em um jogo você finge que não briga, enquanto eu me desespero e brigo sozinha. Pare com joguinhos: é feio, deselegante e no final, quem se machuca é você, porque eu já joguei minhas palavras e tirei meu pino faz tempo.



Mas de um talvez eu não me excluo. É verdade, eu me cobro muito. Chega de talvez. Desta verdade eu não fujo: eu me cobro tanto que chega a doer. A cobrança é tanta que meu coração aperta quando eu vejo todo o meu esforço sendo jogado fora pela falta de auto cobrança das outras pessoas. Mais outra verdade: todos se acostumam com minha auto cobrança. É tanta acomodação que quando eu finalmente me solto, os outros vem cobrar de mim. E eu volto a me cobrar, não pelos outros, mas por mim mesma, porque tenho essa necessidade de ser justa em tudo (que o signo me defina).



Sou sonhadora e debocham dos meus sonhos. Ou ficam com raiva por eu querer ser uma pessoa melhor. Mas eu não escondo a maldade que existe dentro de mim. Mas também sonho em ser alguém melhor, porque não? Porque as pessoas escondem a maldade delas e fingem ser alguém que não são? Porque elas escondem os sonhos delas com medo que alguém se incomode com eles? E porque fazem isso com a gente? É tão ruim ter que escutar os lindos delírios de alguém que está chegando perto das nuvens? Realmente, deste talvez eu também não me excluo.



Mas do talvez que eu mais tenho certeza é o do meu jeito. Sim, meu modo de ser, viver e pensar é estranho. Tenho sempre essa estranha ligação com o divino que me faz parecer louca. Mas eu sou feliz e conheço muita gente que é feliz comigo. Eu não vou pedir desculpas se meu jeito te atrapalha, mas posso dizer que sinto muito por você. Também não quero nada leve, porque coisas levem vão embora muito fácil; quero coisas pesadas. Coisas e sentimentos que fiquem comigo pra sempre. Porque eu vou ser pra sempre contigo.



E o último talvez é o de decifrar. Não, você não me decifrou, não me decifra e nem me decifrará. Só quem me decifra sou eu e mim.


No espelho não é Eu, sou Mim. Não conheço Mim, mas sei quem é Eu, sei sim. Eu é cara-metade, Mim sou inteira. Quando Mim nasceu Eu chorou. Eu e Mim se dividem numa só certeza. Alguém dentro de mim é mais Eu do que Eu mesma. (Rita Lee)

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